31 outubro, 2016

Da janela do ônibus

Da janela do ônibus
É o mundo que passa sem dar satisfação,
E nós,
Ainda que vejamos parte dele abaixo de nossas cabeças,
Não conseguimos a superioridade tão sonhada,
O ônibus é como uma jaula de animais cansados
Observados com indiferença por quem passa
numa velocidade absurda,
que não os levará a lugar além de nenhum outro,

Da janela do ônibus
O mundo que vemos é um filme sem cortes,
E o objetivo é tomar um ponto para retornar a ele
e nos tornarmos personagens,
Para que quem estiver com a testa rente ao vidro
interprete também de tal maneira,

De lá,
Não damos conta de que somos o cenáculo
da santa ceia avulsa
numa trincheira de várias guerras diferentes.


29 outubro, 2016

Hospício

- Já reparou como é repleto o repertório de piada que fazem com a gente?
- Sim... Hospício e louco são alvos fáceis, duvido fazer piada com quem é normalzinho da cabeça.
- Pois não é, e quando não é dizendo que a gente vive no mundo da fantasia inventam que a gente vai se jogar em piscina vazia...
- Mas não vê... Eu pelo menos nunca soube de ninguém aqui que se jogou em piscina fazia, tu já?
- Nunca!
- A gente tem que fazer algo contra isso!
- Tem?
- O que?
- Não sei... Você tem algum ideia?
- Tenho nada, inclusive tô cheio de coisa pra fazer. Tenho reunião com os chineses depois do almoço...
- Chineses?!?!?! Pois se você soubesse quem é o piloto do avião que vai trazê-los não estaria com tanta pressa... Adeus!


27 outubro, 2016

Nas estrofes aqui estou

Penso que posta-las separadas e em intervalos de tempo indefinidos diminuiria não só a importância como também alteraria o significado, que perderia sua completude. Não espero agradar e sim somente, dizer. 

Clique no link abaixo para baixar o PDF. 


24 outubro, 2016

Herói

Eu ainda pretendo escrever muito sobre heróis. Criar, citar, ovacionar, conhecer algum e quem sabe me transformar em um. Minha primeira crônica escrita, aliás, abordou o assunto. Mas hoje eu queria falar sobre Pedro.

Pedro não nasceu com a super força do Hulk e do Superman, tampouco com a eximia pericia do Batman. Nem vou perder tempo citando os demais, pois o nosso herói foge do convencionalismo do mundo dos quadrinhos.

Descobriu sua virtude na adolescência, e não haveria hora mais conveniente. Queria salvar o mundo, ajudar as pessoas que mais precisavam. Cogitou inclusive usar máscara, capa e luva, construir um quartel general, convidar alguém de sua confiança pra ajudar nas missões e arranjar algum veículo pra encurtar os trajetos. Acabou, porém, vendo que não seria necessário já que seu talento era algo muito individual, mais que isso, autossuficiente. Seu poder? Pedro era 100% seguro, nunca tinha duvidas, jamais se questionava, era um poço de certeza. Desistiu da carreira de herói quando o melhor nome que entrou foi Senhor Confiança.


Pedro nunca salvou ninguém, mas também pudera, nunca precisou ser salvo. 

22 outubro, 2016

Teleprompter

Eu queria ter a memória dos vendedores, lojistas e feirantes que sabem o nome de quase todos os seus clientes e acabam fazendo uma simples troca de cédulas parecer uma amizade verdadeira e de longas datas. E algumas são!

A memória da dona de casa que não precisa da listinha de compras pra ir ao supermercado, dos superdotados que decoraram Bhaskara e dos jornalistas e apresentadores que ignoram o teleprompter.   

Do historiador que entende os contextos e as conjunturas sabendo de cor seus títulos, e os respectivos personagens, datas e lugares neles inseridos. Do escritor que tem sempre os adjetivos na ponta da língua, do músico que não perde a letra, as notas e os acordes, dos poetas que não se esquecem de seus versos e dos recitadores que reverberam os versos desses poetas.

Do professor que sabe o nome de cada aluno e a avó de todos os netos. Dos Don Juan's que não confundem os nomes de suas amadas e a memória do meu HD externo, santo HD externo que impediu o meu mundo físico de se tornar um galpão caótico superlotado de PDF´s, filmes e discos.  

Tudo menos essa memória que eu tenho e que me faz olhar pra você e me perguntar “da onde é que eu te conheço mesmo?”.  




21 outubro, 2016

Procurando terreno

Exausto, cheio
E procurando o que há de vazio,
Para abastecer, sem abastar,
Poder viver do que há
e do irretorquível provável ter,

Exausto, cheio
E procurando o que há de vazio,
Para delinear, sem demarcar,
Sendo totalmente acessível ao devir que há de sempre ser,
Porque é tudo o que sempre está,

Aqui ou lá.


(Por vontade que não se justifica vou, sem periodicidade definida, postar alguns versos meus por aqui.)

17 outubro, 2016

Gorilas

Não ter domínio do inglês nesse mundo que gosta de pagar de globalizado é um infortúnio. Como um gorila, o bilíngue bate no peito urrando idiomas e te chama de animal. Mas o que todo poliglota esquece ou desconsidera é a máxima de que a ignorância é uma benção. Ainda mais quando o assunto é música.

Quando fogem da minha compreensão os significados entram em cena a melodia, o tempo entre as palavras, a entonação dada a elas, o tempo entre elas, por último o corpo instrumental do conjunto. Tudo isso me tira o fone de ouvido e me da o lápis e o papel. A música agora é minha! Ela me diz o que quero ouvir, pode estar falando sobre politica ou ciência, mas se soa uma canção de amor que seja! Vai me fazer recordar de algo, lembrar alguém. Ou o contrário, se possível. Já cheguei a imaginar que uma música dos Smiths era de cunho político. Não vou lembrar seu nome agora, porém sei que tempo depois foi rasgar minha ilusão uma tradução torpe do Vagalume.

Música não é o que se canta, é como se canta. Perdão, compositor.

O desvario toma mais corpo e cor quando decido ir mais longe roubando claquete e jaqueta como se fosse um diretor hollywoodiano e elaboro um storyboard pro clipe que a música só não tem, olhem a lástima, porque não é minha mesmo. E aí vem imagem de pessoas e lugares aleatoríssimos que faço questão de que venham assim, porque cá entre nós, me enumere em um minuto dez clipes com sequencia e linha de raciocínios claros. Julgo? De forma alguma. O videoclipe é o filho prodigo e único do cinema com a música e se algum músico estrangeiro por ai estiver interessado em diretor, aviso logo que sem experiência, pra produzir um clipe de alguma canção sua mediante a desobediência total do que provavelmente querem dizer os versos, o meu e-mail está em algum lugar desse blog. 


10 outubro, 2016

Perfume de escritório

- Eu odeio perfume de escritório!
- Como assim, que perfume? E odeia assim do nada?
- Muda a fragrância às vezes, mas nunca o tom. É sempre essa mesma coisa com contraste de álcool gel.
- Ah fala sério. Esse que puseram essa semana é aquele com o cheirinho de pétalas da primavera.
- Mas que pétalas da primavera? Como você pode juntar todos os aromas de todas as pétalas no período da primavera e tornar isso um perfume?
- Sei lá, talvez seja só pra vender. Mas deixa isso pra lá...
- Não, deixa isso pra lá uma ova! Próxima semana vai ser o que? Fragrância neve inverno?
- E se for, o que você vai fazer?
- Nada. E tem mais, odeio roupa de escritório...
- Roupa de escritório? A gente nem tem uniforme.
- Mas em compensação há um padrão de cor, um padrão de calçado, de penteado, de tudo?
- São as normas da empresa, aceitamos quando viemos trabalhar.
- Fomos indiretamente obrigados a aceitar, assim como fomos forçados aceitar que a marca do Café e a hora que ele é feito, sempre os mesmos.
- Agora até o café?
- Sim até o café. E o nosso trabalho? Todo dia a gente vem pra fazer a mesma coisa. Recebe o pedido, verifica os custos, põe tudo na planilha e manda pro chefe.
- Você queria que fosse como? Um dia fazendo o que a gente é pago pra fazer e no outro descendo pra ficar no lugar do porteiro?
- E porque não? Sinceramente, o que a gente faz aqui não necessita da minha pós-graduação ou da minha formação, talvez sequer do meu ensino médio. Chame qualquer pessoa que manje das quatro operações matemáticas e que tenha aprendido as tabuadas de 2 a 9 e eu te garanto que ele manda ver!
- O que deu em você hoje, Pentecostes? Mas Acho que já deu né? Hora do almoço!
- Que tal o japonês nosso de cada dia?

06 outubro, 2016

Palavras breves sobre o desastrado

Eu sou a pessoa mais desastrada que conheço, que minha mãe conhece. Que a minha família já ouviu falar!

Gostaria que houvesse uma premiação para o desastre com o naipe assim do Guinness.

Ponha objetos quebráveis, coisas frágeis na minha mão e esteja ciente do risco que corre.

Hoje eu quebrei um copo de vidro e terminei um relacionamento. Quebra de seguimento do tempo que não necessariamente é regida por mim, mas me atribuem a causa.  

Já quebrei tantos outros copos. Mas o termino é só o segundo. E nem só copos foram vitimas minhas. Já provoquei um curto circuito na casa da minha vó e ficamos sem energia por um dia inteiro. Uma população inteira de pratos foi lançada ao precipício hora pela desatenção, hora pela ansiedade. Metade dos meus brinquedos foi doada pela minha mãe enquanto o restante... Bom, preciso pontuar? Já tive bonecos desmembrados de todas as formas, alguns deixei sem perna e outros sem braço. Consegui alterar a concepção por trás de uns e os contemplei com a lenda da mula sem cabeça. Sem falar que óculos comigo não convive mais de um ano.

As pessoas normalmente igualam os desastrados aos descuidosos, mas quebrar ou perder por azar é diferente de perder por desinteresse. Entre os dois a displicência é o algoritmo em comum, porque ambos podem se esforçar pra mudarem sua natureza.

Vivo pela perspectiva do elefante numa loja de cristais. Temo aquilo que me teme, tento proteger o que de mim se protege.


05 outubro, 2016

(I.N.U.C.C) "Tão distante"



Never feared for anything
Never shamed but never free

Desde os primeiros momentos, no impacto da presença despojada, aquilo que parecia ‘’loucura’’ era só o reflexo do espirito destemido que carregavas. Sempre disposta a tudo, sem pudores bobos, sem medos, sem vergonhas (Sim, vergonha nunca foi coisa que te cabia), porém, de alguma maneira algo na vida te prendia, a trajetória nem sempre é tão perfeita.

Lived the life so endlessly
Saw beyond what others see

É, talvez a vida cobre de quem vive intensamente. Enxergar além não é dádiva dos santos, muito menos dos sóbrios, mas sim dos ébrios e dos loucos. Não é tão simples, não é tão perfeito como a ideia que habita o imaginário de alguns. “Live high, die Young”, isso custa caro... E mesmo que não tenho sido esse seu propósito, viveu assim até o último dia.

I tried to heal your broken heart
with all that I could

E onde eu me encaixei nisso? Fui mero coadjuvante nessa história. De mansinho entrei nesse furacão que chamavas de vida, mas com a certeza de que sempre fui verdadeiro. Verdadeiro como nunca tinha sido, e como nunca mais o serei. O que eu tinha de melhor te entreguei. Talvez tenha sido por isso que tudo isso ficou tão marcado. Aquele ano. Aquelas pessoas. Todas aquelas lembranças. É...

Will you stay?
Will you stay away forever?

Será? Me pergunto isso tantas e tantas vezes depois que se você partiu.

How do I live without the ones I love?
Time still turns the pages of the book it's burned

Eu não sei como é a morte, mas com certeza é mais difícil pra quem fica. Como viver sem aqueles a quem amo? “Acostume-se, ‘‘a vida é uma eterna perda daqueles que amamos”. Victor Hugo estava certo. E esse livro, mesmo destruído ,sempre terá mais uma página.

Place and time always on my mind
I have so much to say but you're so far away

Que são três anos ? Pouco tempo, não ? Pode ser que sim. Repito, os lugares, os dias e mais, as pessoas, eu, você.  Sim, tenho muito a falar. Nunca tive tanto. E se escrevo este texto hoje é por isso. Pra saciar a vontade que tenho de falar. breve Infelizmente estás muito longe...

It seems we're so invincible
The truth is so cold

‘’Aos quinzes anos tudo é infinito’’. Eu tinha quinze anos. Eu era infinito. Éramos invencíveis. Éramos... A verdade é aguda, rasga suavemente, fina lâmina de gelo.

Now and then I try to find a place in my mind
Where you can stay
You can stay awake forever

Memória assim não se apaga fácil.


Sleep tight, I'm not afraid
The ones that we love are here with me
Lay away a place for me
Cause as soon as I'm done I'll be on my way
To live eternally

Esses versos são de uma força inexplicável. Apesar de tudo, não há o que temer, a vida só começou. Apesar de tudo, daquelas pessoas, algumas ainda estão aqui. Apesar de tudo...Você vive eternamente, na memória daqueles a quem cativou.

I love you
You were ready
The pain is strong and urges rise
But I’ll see you
When it lets me
Your pain is gone, your hands untied


Sua dor acabou suas mãos desamarradas. Saber disso me conforta não a certeza de que te verei de novo, isso é dúvida sem certeza. Sweet sleep, my dark angel.

Soluções

- Eu sugiro uma chuva de cometas!
- Ultrapassado!
- Que tal abduzir alguns chefes de estado para influencia-los a lançar seus mísseis e ativar suas bombas?
- Brega...
- Eu odeio os americanos. A gente bem que podia destruir o mundo a caráter deles.
- Como assim?
- O fim da humanidade sempre começa por lá! Com direito a espaçonaves gigantescas que sugam as coisas do chão e soltam raios nas pessoas.
- Eles acham que não temos classe – Disse um dos extraterrestres.
- Deixe-me ver, então que tal se aplicássemos neles o mesmo que para os dinossauros? 
- Chuva de meteoros?
- É serio que você realmente acredita nisso? ... As teorias criacionistas dos humanos são bem mais criativas que as nossas...