Um diagnostico de dengue provoca a ausência
da doméstica e a deserção entre o ócio e minha mãe por uma semana. São sete lastimosos
dias e sete lastimáveis noites, sem procrastinar porque é daquelas mães que veem
verossimilhança entre uma fileira de livros mal posta e a casa de cabeça para
baixo envolta por chamas.
Eis que logo no primeiro dia ordenou ao
meu padrasto que providenciasse lâmpadas novas para substituir as queimadas e
agora se vê luz no quarto da minha irmã, nada de pontos leitor já que o segundo
dia começa com o galo acordando com as batidas das panelas, há louça acumulada,
há poeira acumulada e o time removedor-álcool-lustra moveis entra em ação, mas
tem o almoço, meu deus já são onze horas, horas que se vão e vem o terceiro
dia, e olhem essas vidraças meus filhos mas que porcaria é esta, aonde estão os
jornais não eu não quero saber de noticias, me vê o vidrex, não é propaganda
leitor nem se espante mamãe já é o quarto dia, e senhor jesus quanto mais limpo
e arrumo mais suja e bagunçada fica, não diga isso porque do meu quarto cuido
eu, e bem que a Maria podia ter evitado essa dengue se verificasse a água parada
e no quinto dia é o que faz, tudo seco mas ainda falta muita coisa e vai ficar
pro sexto dia, eis que ele chega e põe-se a varrer e passar o pano úmido pela
extensão de seu latifúndio particular, além de fazer a sua imagem o quarto dela
e o da filha, cadê o cachorro hoje é dia do banho, cadê a água, hoje não é dia
dela mulher, só amanha, mas amanha eu não me movo pra nada cansei, e o domingo
chega, é o dia do descanso, depois do almoço feito e mesa posta vira-se pra mim
e ordena com sutileza de quem roga misericórdia, “ô meu filho, vá me comprar
uma cerveja”
Ao que convém concluir, a única e
simples diferença entre a arrumação da minha casa e a criação do mundo é que em
gêneses não se lê relatos da fermentação da cevada. Feito isto, Deus disse:
-Meu filho, traga o vinho!