31 agosto, 2016

Votação

Por volta das 19h30 de uma noite de domingo, estavam reunidos na cozinha da residência oficial da presidência da república, sua excelência Corrupt Partids e os senadores João Trás-Volta (PLB) e Anastolfo da Breja (PCB).  Articulavam-se em busca de votos para a aprovação do novo projeto de lei criado por Anastolfo, projeto este que enfrenta a rejeição de boa parte do plenário e principalmente da população.

- Tenta com o Senador Tiquira, ele vende o voto fácil, fácil.
- Esse ai, presidente? Sem chance... Aprovaria o item dos líquidos, mas é extremamente intolerante.
- Ao projeto?
- Não, a lactose.

Grupos contrários ao projeto promoveram protestos em frente ao palácio do planalto, pois o brasileiro não suporta mais ser prejudicado de maneira tão despudoradamente impudica como tem sido nos últimos anos.

Mas mais uma vez tudo acabaria em pizza.

Ao passo que na sala de visitas da residência oficial da presidência aguardam os maiores chefes de cozinha do Brasil, que cotados para assumir um novo ministério em caso de aprovação, confabulavam possibilidades e tentavam fechar alianças. “Se eu assumir você vem comigo”. Depois inúmeras reuniões e muito entra e sai tudo é milimetricamente acordado para o dia da votação no senado.

O tão esperado dia chega. Manifestantes de todo o país vieram de suas cidades para protestar em Brasília frente às duas torres mais odiadas, porém ainda firmes, do Brasil. Num sábado de muito sol, e olha que quando a pauta é seria eles trabalham até em final de semana. A sessão começa, discursos que antecipavam os votos eram inflados e mencionavam mãe, família, animais de estimação e principalmente a pirâmide alimentar. Nada de tensão, tudo ia de acordo com o combinado. As articulações feitas mostraram resultado e por uma maioria estarrecedora venceu o projeto de lei que proveria a construção de uma Pizzaria Bar dentro do palácio do planalto.


Quando o STF foi acionado, nada pode fazer ou não quis, isso é algo que foge da minha alçada. Um dos ministros declarou que, “é um processo político e a decisão foi democrática, esta casa só se manifestará se a pizza estiver fria e a cerveja estiver quente”.  

29 agosto, 2016

Imagine você

Imagine você ao descobrir que seu avô mantinha relações incestuosas com a mãe dele, por acaso sua bisavó, além de obriga-la a cuidar sozinha de todos os filhos do casal, e que ela para se livrar do tormento que vivia pediu ao seu filho mais velho, por ventura o seu pai, que a vingasse ceifando o patriarca na cintura, e que esse por sua vez depois de matar o próprio pai e assumir o comando da família, rejeita e tenta assassinar você e todos os seus irmãos a ponto de se precisar que o ultimo, dando continuidade a herança homicida, assassine o pai libertando você e os demais. Imagine como foi difícil a infância do menino Poseidon, que de tão envergonhado que é da família nunca fala sobre a vida pessoal e chegou inclusive a mudar de nome. Pôs Netuno. 

15 agosto, 2016

Mais-valia

Empenhados numa pauta trabalhista extensa e pra lá de marxista reúnem-se em fábricas e galpões de estoque todas as categorias de materiais esportivos. “... Utensílios para Desportes!...”. Todas as categorias de Utensílios para Desportes! Liderados estão pela Raquete do Djokovic, pelas Chuteiras do Messi, da Marta e do Neymar, pelos tênis do Usain Bolt, pelo Shampoo do Cristiano Ronaldo, pelas Bolas de Vôlei da liga mundial nos jogos do Brasil e pela Sunga e Óculos do Michael Phelps.

Diversos encontros foram realizados para determinar as exigências a serem feitas e dentre elas se estabeleceu como as principais: Nome próprio, pois todos já estão cansados de combinações sem graça entre consoante e numero; 30% de comissão sobre os direitos de imagem e 15% por partida jogada.  “... E férias!...” Mas as férias de vocês não coincidem com as dos esportistas? “... Queremos nossas férias!...” E como ficam os jogadores? “... Cada qual com seu problema, eles com os deles e nós com os nossos...”.

Hoje, porém estão todos presentes para definir as categorias que não terão direito de fazer parte da causa, e essas são...

- Notebooks e todos os dispositivos móveis da critica esportiva – Responde a chuteira do Messi.

- E o microfone do Galvão Bueno – Desta vez todos em uníssono. 

13 agosto, 2016

Sandra

Sandra já tinha tudo pensado, mas precisaria da casa vazia para a ocasião. Buscou as crianças na escola e deixou na casa da irmã, depois passou no supermercado pra comprar o que precisava e voltou correndo, pois ainda faltavam alguns detalhes.

Dedicou o dia a arrumação daquelas duas salas, que divididas eram apenas pelo sofá. Caprichou na variação dos tons de vermelho, mudando as almofadas, pondo tecidos em cima do estofado e trocou até o tapete. Inclusive, tinha ido ao mercado a procura de cerejas, morangos e flores. Na mesa, porém, pôs uma toalha branca justamente para contrastar com as pétalas vermelhas que espalhara também pelo chão. E este foi equipado por quatro luminárias direcionais com a luz voltada para a parede. Iluminação quase perfeita, mas faltavam as velas. Sandra pegou emprestada da mãe seus castiçais e porta-velas chegando também a comprar umas aromáticas. Ornamentou com laços os guardanapos e ordenou minuciosamente ordem e posição dos talheres. O vinho escolhido foi tirado da adega do pai, configurando-se ai um roubo, porque o sogro não ia com a cara do genro e jamais cederia as chaves sabendo ser aquela a finalidade. Para o cardápio foi atrás do exótico e adorou a ideia do Risoto de Açafrão, que em pesquisa recente se descobriu que é capaz de avultar a função e o grau de satisfação sexual. Depois de tudo pronto se pegou perguntando o que se conversa num jantar romântico.

Ciro, pontual e pragmático, às oito e meia chega. Sem muito interesse, passa ligeiro o olho pelos cantos da casa e a mulher que imaginava o marido se espantando com a ribalta extravagante do magenta o que vê é o homem estampar na face pura ojeriza.

- Sandra, do se trata isso aqui?
- Um jantar à luz de velas. Não é óbvio?
- Pra que jantar à luz de velas se eu paguei a conta de luz?
- Verdade! Assim como há porque você dormir na nossa cama se a maciez do sofá é tão confortável quanto.




08 agosto, 2016

Cegonha

- Pai, mãe!
- Fala filhão!
- Como eu nasci? De onde eu vim?
- Explica você, Flávio... Não sou boa com essas explicações.
- Você veio da cegonha meu filho!
- Como é que é, Flávio? Quer dizer então que durante nove meses eu fui obrigada a aturar um bando de grávidas detestáveis naqueles encontros insuportáveis e ler tudo quanto é revista sobre bebê, gravidez e me debruçar horas e horas naqueles dicionários de nomes. Além de ter que andar por ai de rasteira, bata cigana florida, quando não aqueles vestidões horríveis que me faziam parecer aquelas hippies maconheiras da Woodstock. Sem falar que eu quase fali a indústria tabagista... Praticamente um ano e meio sem uma carteira de cigarro, Flávio! Um ano e meio! Ai o dinheiro foi pra onde? Pra essas porcarias de pilates, ioga e hidroginástica! E olha pra você... Fazia sempre cara feia quando eu pedia ou reclamava de alguma coisa. Eu tinha que compartilhar tudo com gordo do obstetra, e esse sim pode ser considerado o verdadeiro pai da criança! Me ouvia, me entendia, respondia as minhas mensagens na hora, aceitava solicitação pra jogar Candy Crush Saga. Eu acho é graça, mas da vontade de rir mesmo é quando eu lembro do papel de imbecil que eu fazia. Onde já se viu ficar conversando com uma barriga inchada? “Não amor, é necessário, vai servir pra estabelecer uma conexão com a criança, ele vai se sentir incluso a família”. Incluso a família é uma ova! Isso é coisa de gente retardada... E o meu cabelo? Você se lembra da porcaria que ficou o meu cabelo? “Não, amor, o médico recomendou evitar qualquer química e além do mais o seu cabelo tá lindo assim”. Como você é idiota... E tem mais, pra sua família ridícula eu tinha que me mostrar a mulher mais feliz do mundo no primeiro trimestre pra não acharem que eu era uma péssima mãe! Não é assim que todo mundo pensa? Ah, fulana engravidou. Meu deus, deve tá cuspindo arco-íris de alegria pela boca... Eu nunca vou te perdoar pela bata cigana florida. Flávio, eu era magérrima e engordei toneladas, eu parecia uma coxinha, melhor, não, uma bomba daquelas bem gordurosas, sabe? E eu vivia cansada, enjoada, não dormia direito, e ainda tinham as contrações. E ai com tudo isso, depois de todo esse inferno que eu passei na minha vida você vem me responder pra esse menino que ele foi concebido por uma cegonha?
- Mas amor...
- E você, sabe de onde você veio? Foi de uma égua!
- Pai? O senhor é filho de uma...
- Já pro quarto, moleque!

06 agosto, 2016

Aceitação, e das boas.

Eu não sei flertar com o passado

Eu deveria aceitar isso, eu devo aceitar isso. Não posso lhes certificar se já aceito plenamente.

Por insistência de uns amigos puxei assunto, mandei um olá, franciscana camaradagem masculina, com quem posso considerar meu primeiro amor. Não foi amor, se era na adolescência era tudo menos amor. Se há amor na adolescência é pelo fetichismo do mundo lá fora, pela obra mal acabada a fim de se tornar o mártir do Eu. Eu considerava. Ainda sou um adolescente, baita de um! Mas mudei algumas concepções para amadurecer. Ou porque amadureci? Não quero saber de fulana ou cicrana, disso ou daquilo referente a pessoas fora do meu circulo atual. Me deixe discutir coisa de gente grande!

Não insista nas rebarbas no passado, pois elas não existem e quem discorda disso que se prepare para percorrer uma via-crúcis num labirinto moonwalker. Eu não encontro assunto, ela não quer conversar e se quer, meu Deus, porque ainda nesses joguinhos fúteis. E não é alguém fútil, longe disso. É alguém do passado e encontra-se aqui o problema a reger em pantomima uma tragédia contemporânea, pobre e sem enredo claro. Pergunto o que anda fazendo e ela diz que se concentra nos estudos. A bola não volta pra mim, não lhe interessa por igual o meu mundo e o que ando fazendo nele. Agora eu posso, e sem pedir a opinião de ninguém, dizer que ela não quis conversa. A sua opinião pode antagonizar a isso, mas não interessa. Minha certeza tão cheia de si quer encerrar o assunto. Não foi um jogo porque não era pra ser nada e, por favor, garotas, mulheres e pessoas, quando não quiserem nada sejam tão educados quanto.

Estou pedindo.

Eu fui gentil, coisa que por esses tempos tenho visto apenas a necessidade de ser. A educação que me deram exige. Aliás que educação é essa se o “deram” que eu acabei de por, antes pus “derão”. “Você escreve”, e daí?, “não pode jamais cometer um erro desses”. A culpa foi do teclado e das luzes do quarto que apaguei. Desculpa mais convincente, saída pelas portas do fundo da tangente. Eu não respondi mais nada a ela. Não parabenizei, nem disse ok, não dei continuidade. Então eu resolvi procurar umas fotos e comparei com algumas memórias pra tentar recordar os traços mais simples, o cheiro, o volume do cabelo, pus umas músicas que me fazem recorda-la, e que antes, eram para-raios pra saudade e nada, eu realmente estou satisfeito por dizer para mim mesmo e não mais para os outros, “e nada”, (“!”).  Não fico mais nervoso, as batidas cardíacas plenas se mantém quase estáticas. Posso culpar meus amigos? Devo. Eles não digitaram por você, diz minha consciência. Eu os culpo e culpo você, respondo eu.  

A minha salvação foi a internet, pois imagine só se isso acontece no mundo das pessoas que se olham nos olhos. Que marcam encontros pontuais para selar o inicio e encontram-se para fins de ultimato. Olhem o flagelo, mas que martírio... Fiz-me menos homem? Talvez menos humano. Não pude saber se ao ler ela riu, se virou o canto da boca, quem sabe perplexa não soube o que responder ou não o quis e deixou pra responder só depois. Postergar decisões não pausa o legado frenético do tempo, moça. Certeza mesmo é que eu passaria a mesma vergonha e com tamanha coragem cara-a-cara, olho no olho. No meu caso, olhando pro céu a procurar as silabas e os sinônimos das palavras pobres para enriquecer o discurso no vão entre as estrelas. Lá não é dicionário, diz minha consciência. É figura de línguagem sua burra, eu respondo. Burro é você! Não sou covarde. Sou superficial? Eu escrevia versos e mais versos pra essa mulher, se tem uma coisa que corro a largo é da superficialidade, haja vista que só Deus sabe como eu sinto o que sinto agora, e a estrutura que tenho pra que apenas escreva e não grite. Porra! Os palavrões são magníficos. Não eu não sou refém da minha escrita. Sei resolver meus problemas como homem, como gente, como humano, eu sei usar a língua, aliás, não só pra falar, aliás, eu sei que devo resolver os problemas, porém vem a calhar que não sei como resolver a maioria e acabo por dissolvê-los em tantos outros. Isso lembra o causo da pedra. Se lhe questionarem sobre o que há dentro de uma pedra, responda que é de certo modo, efetivamente impossível saber, pois ao partimo-la o que fazemos é dar origem a outras pedras. Pedras são formadas por pedras e problemas por problemas, do contrário seriam outra coisa. Teriam outro nome.

01 agosto, 2016

O mundo paralelo do “imagina se fosse eu que tivesse feito isso”

A impossibilidade de lembrar não incomoda tanto, nem tira o sono. No máximo o suficiente para fazer meu cérebro parecer sofrer de Parkinson. Eu adoraria ter certeza se foi ao ouvir Think For Yourself do George Harrison em Rubber Soul ou Condicional do Rodrigo Amarante no disco Quatro que eu tive pela primeira vez a vontade ou o sonho de ter criado algo de outrem.

Aqui, escancarando em linhas e, quando mesmo sem querer, deixando por indolência do inconsciente escapar pelas entrelinhas, eu falo sobre isso pela primeira vez.  O que imediatamente faz o agregado das duvidas se expandir, temos um grande questionamento sustentado por dúvidas pequenas, que talvez não menos importantes. E por se tratar da primeira vez, desconheço a forma do que já possuo, pois vai que é uma tendência a importunar mais gente por ai. Inclusive excluí faz tempo, a tese de que essa vontade de criar o que já foi concebido por alguém é próprio daquele que tem por obrigação ou oficio o ato da invenção. O “imagina se fosse eu que tivesse feito isso” deve sim, ficar batendo no intelecto do operário, da empregada doméstica, do engenheiro, do funcionário público, de todo mundo! Não é intrínseco ao viés idealizador ou artístico. Mas e se não for? E se somente eu sofro desse mal? E se enquanto fico sonhando em ser ou ter sido aqueles que eu admiro o resto das pessoas simplesmente trabalha para chegar ao patamar dos célebres... Acho que não, quero acreditar que não, vou rezar para que eu esteja errado, vou pagar para algum leitor me escrever um e-mail dizendo que se identificou com cada paragrafo do eu escrevi aqui. Aliás, vou mostrar logo o rascunho pra alguém aqui de casa.

O “imagina se fosse eu que tivesse feito isso” me faz por a música no volume mais alto e acompanha-la apenas pelo gesto labial imaginando ser o dono daquela voz a equilibrar aquele timbre, o compositor e o guitarrista a tocar os riff´s. Penso que a coisa piorou pro meu lado quando comecei a me afeiçoar com a literatura e as artes. Quantas vezes não me imaginei finalizando os últimos parágrafos de Levantado do Chão ou rabiscando os primeiros traços do crânio a admirar São Gerônimo. Não se falaria em Saramago ou Caravaggio e nesse meu mundo paralelo em que reinam as leis do “imagina se fosse eu que tivesse feito isso” teria eu um dos nomes mais respeitados do Barroco e um Prêmio Nobel de literatura.

É uma espécie de ganancia contemplativa, não há maldade, portanto descartemos hipótese de inveja. Esse é um anseio por adjetivos que não nos vestem por pura arbitrariedade da natureza. Nascemos desse jeito porque não nascemos doutro, o que é óbvio. Infelizmente para quem sofre da síndrome do “imagina se fosse eu que tivesse feito isso” nem tudo que é óbvio está claro.