Sandra já tinha tudo pensado,
mas precisaria da casa vazia para a ocasião. Buscou as crianças na escola e
deixou na casa da irmã, depois passou no supermercado pra comprar o que precisava
e voltou correndo, pois ainda faltavam alguns detalhes.
Dedicou o dia a
arrumação daquelas duas salas, que divididas eram apenas pelo sofá. Caprichou
na variação dos tons de vermelho, mudando as almofadas, pondo tecidos em cima
do estofado e trocou até o tapete. Inclusive, tinha ido ao mercado a procura de
cerejas, morangos e flores. Na mesa, porém, pôs uma toalha branca justamente
para contrastar com as pétalas vermelhas que espalhara também pelo chão. E este
foi equipado por quatro luminárias direcionais com a luz voltada para a parede.
Iluminação quase perfeita, mas faltavam as velas. Sandra pegou emprestada da
mãe seus castiçais e porta-velas chegando também a comprar umas aromáticas.
Ornamentou com laços os guardanapos e ordenou minuciosamente ordem e posição
dos talheres. O vinho escolhido foi tirado da adega do pai, configurando-se ai
um roubo, porque o sogro não ia com a cara do genro e jamais cederia as chaves
sabendo ser aquela a finalidade. Para o cardápio foi atrás do exótico e adorou
a ideia do Risoto de Açafrão, que em pesquisa recente se descobriu que é capaz
de avultar a função e o grau de satisfação sexual. Depois de tudo pronto se
pegou perguntando o que se conversa num jantar romântico.
Ciro, pontual e
pragmático, às oito e meia chega. Sem muito interesse, passa ligeiro o olho
pelos cantos da casa e a mulher que imaginava o marido se espantando com a ribalta
extravagante do magenta o que vê é o homem estampar na face pura ojeriza.
- Sandra, do se trata
isso aqui?
- Um jantar à luz de
velas. Não é óbvio?
- Pra que jantar à luz
de velas se eu paguei a conta de luz?
- Verdade! Assim como há
porque você dormir na nossa cama se a maciez do sofá é tão confortável quanto.