13 agosto, 2016

Sandra

Sandra já tinha tudo pensado, mas precisaria da casa vazia para a ocasião. Buscou as crianças na escola e deixou na casa da irmã, depois passou no supermercado pra comprar o que precisava e voltou correndo, pois ainda faltavam alguns detalhes.

Dedicou o dia a arrumação daquelas duas salas, que divididas eram apenas pelo sofá. Caprichou na variação dos tons de vermelho, mudando as almofadas, pondo tecidos em cima do estofado e trocou até o tapete. Inclusive, tinha ido ao mercado a procura de cerejas, morangos e flores. Na mesa, porém, pôs uma toalha branca justamente para contrastar com as pétalas vermelhas que espalhara também pelo chão. E este foi equipado por quatro luminárias direcionais com a luz voltada para a parede. Iluminação quase perfeita, mas faltavam as velas. Sandra pegou emprestada da mãe seus castiçais e porta-velas chegando também a comprar umas aromáticas. Ornamentou com laços os guardanapos e ordenou minuciosamente ordem e posição dos talheres. O vinho escolhido foi tirado da adega do pai, configurando-se ai um roubo, porque o sogro não ia com a cara do genro e jamais cederia as chaves sabendo ser aquela a finalidade. Para o cardápio foi atrás do exótico e adorou a ideia do Risoto de Açafrão, que em pesquisa recente se descobriu que é capaz de avultar a função e o grau de satisfação sexual. Depois de tudo pronto se pegou perguntando o que se conversa num jantar romântico.

Ciro, pontual e pragmático, às oito e meia chega. Sem muito interesse, passa ligeiro o olho pelos cantos da casa e a mulher que imaginava o marido se espantando com a ribalta extravagante do magenta o que vê é o homem estampar na face pura ojeriza.

- Sandra, do se trata isso aqui?
- Um jantar à luz de velas. Não é óbvio?
- Pra que jantar à luz de velas se eu paguei a conta de luz?
- Verdade! Assim como há porque você dormir na nossa cama se a maciez do sofá é tão confortável quanto.