Lançado fui numa cansativa maratona de
filmes em que seus temas, cenas, atores, interpretações e cortes abusavam da
tolerância de seus telespectadores e corriam há quilômetros da margem que a
tarja de censura lhes amparava. De todos, porém, o filtro que possuo na cachola
de alguns frames teve o que tirar.
As informações e imagens foram
condensadas num material que serviria mais tarde pra uma piada ou crônica. Quis
diferente quem ia escrever e optei por uma ideia pra roteiro cinematográfico. A
seguir a introdução.
Fábio namora Julia, e ela o trai com seu
professor de Inglês, Jair, que é casado com Virginia, possuindo esta um caso
com o colega de trabalho de seu marido e também professor de Português,
Alfredo.
Bastou pontuar a introdução e o que
escuto do meu ego é “genial, esplendido, extraordinário, inteligente,
inventivo, pra deixar de queixo caído fãs de Woody Allen, quiçá o próprio”. E
isso, por mais inacreditável que pareça, diverge totalmente de imodéstia ou
soberba, porque é comum a aquele que cria achar que inventou algo inimaginável
e tão somente originalíssimo no momento em que o conclui.
Mas eis que aparece a agradável e aconchegante
procrastinação e desde então muitas vezes adiei revisar. Falei do roteiro pra
alguns amigos que se interessaram em ler, não obstante protelei tantas outras
vezes entregar. Cheguei até a perder a versão impressa e achei quando,
afastando a mesa da cozinha pra limpa-la, esbarrei no pé da geladeira e lá
estava ela debaixo. Então parei a faxina e me pus a fazer o que já devia ter
feito há muito tempo. Li, reli, procurei erros ortográficos e fui achar justo o
que, na êxtase do termino, nem cogitei haver. Frutos da critica honesta, aquela
feita pelo próprio criador, eis que surgem os porquês e pra que´s disso e
daquilo.
Teria o diretor trabalho, não pus as
origens e as motivações por detrás das traições. Mas e pra que as colocaria? E
por que falar sobre traições, e por que tantas. Por que ambienta-las no ambiente
acadêmico, porque excogitar antagonismo e romantizar um conflito entre um
professor de inglês e um de português e porque este é o único homem dessa
ficção a não ser traído, a não ter a honra vilipendiada, já que e mesmo se, no
final, diretoria, os alunos e os demais funcionários tomam conhecimento de toda
a patifaria. E pra que ficam todos sabendo, pra que escancarar algo que apesar
de sua natureza indecorosa e despudorada pode fugir a largo da banalidade, se
tratada em território particular. Por que e pra que roteirizar temas tão
delicados e embaraçosos de modo tão descortês e impolido?
O inconsciente é o pior assessor que
um escritor pode ter, uma vez que, se quem lê essa crônica ou chegar a assistir
o filme, me conhece, sabe que já fui traído, nunca me dei bem com o inglês, além
de odiar a mania estúpida do brasileiro pelo vício por estrangeirismos. Que
idolatro a língua da qual me utilizo para sabe-se lá o que, do meu
deslumbramento pelo charme de sua versatilidade e que, embora negue de pé junto
e dedos cruzados como se assim fosse juramento, minha negação pelo inglês só se
dá por não conhece-lo muito bem e continuar a manter distancia. Talvez, só que
com um pouquinho de muita certeza, o roteiro do filme fale sobre traição, mas
esta crônica é acerca do preconceito.