As mensagens vinham geralmente em três
idiomas. “I
love you”, “je te a’ime”, “ich liebe dich”. Confesso,
o camarada tomou-a de mim com afinco. Enquanto eu a beijava com apenas uma
língua ele possuía três.
Só não vejo por onde irrompeu o desalinho a
fomentar o desmanche das estruturas. Do serviço só chego tarde as terças e
quintas, truco e pôquer duas vezes ao mês, futebol e cerveja, samba não, em
sábados alternados. E quando me veio com “quero me mudar desse bairro” ultimei
com “nos mudamos amanhã”. Comprei uma casa de dois pavimentos, quartos que não
dá pra se contar nos dedos e uma cozinha continental já que a americana não era
de seu gosto. Mas já bem antes disso, levei a arquitetos renomados, designers
célebres, lojas de departamentos de nicho oneroso, mas a mulher bateu na mesa e
disse que só aceitaria viver numa morada empavesada nas cerâmicas de
Christopher Dresser, desatravancada pelas maçanetas de Guimard e com um segundo
andar que só deveria ser acessado se através da escada das grades de linhas
curvas do Victor Horta. Quis mais: uma sauna com a porta dupla de vidro do
Mackintosh e para pontuar uma lista pra lá de procaz, obsecrou para galantear
um comezinho criado mudo à primeira edição de A Bela e a Fera ilustrada pelo
Walter Crane. Por fim quando questionei se queria fazer de nosso lar um
monumento Nouveau, a energúmena estampou na cara o asco e torceu os lábios respondendo
“É Floreale, Stile Floreale, imbecil!”... Enquanto o outro morava num flete que
se via mal um quarto e na cozinha, de tão minúscula que era, os dois tinham que
se revezar no que podem ser descritos como pseudo-metros-quadrados.
Mas que adentrem na revelação dos fatos
todavias e entretantos porque é ao tentar conceituar tudo que certas coisas
perdem o significado. A casa que comprei era no centro da cidade. Abafada,
calorenta, não corria formiga, mosca, barata e nem vento. Um inferno na terra.
O flete do dito cujo era de frente pra orla marítima. O vento das cinco era
mais refrescante que água de coco.
E antes mesmo do fim consumado, que ainda
não totalmente digerido. Fui do horizonte a mais acolá... Abdiquei do orgulho depois de muito insistir
pela minha aceitação e adesão ao mundéu fútil e oco das redes sociais e assim
querendo amenizar o estar e o estará das circunstancias criei conta em
Facebook, Instagram, Snapchat e o escambau. Precisava mais! Necessária era uma
demonstração de deleite as ferramentas de marocar vida alheia. Tomei a
iniciativa! Apanhei uma foto que amigos da faculdade tiraram de um beijo nosso
e num ato intertextual republiquei a tal fotografia. Não satisfez nem saldou,
não desagravou nem remediou, não conteve nem rejubilou, não compôs e nem
recompôs. Disse que esperava pela ressureição de Klimt e Rodin, pois queria ter
um beijo seu pintado ou esculpido.
Almejava zarpar? Evaporar-se! Evacuar-se...
Mas não queria sair mal falada. E logo de fininho para seguir o roteiro
clichê-aventura de tabela? Jamais. Alzheimer veio visitar mamãe e a esposa se
fez de boa anfitriã. “Como posso viver numa casa em que sua mãe desconhece a
mulher que você escolheu para ser a mãe dos seus filhos? Adeus.”