19 julho, 2015

Frenesi rubro-negro


Perfilado o pelotão do exercito se desperfila num frenesi estrépito. As senhorinhas da rua doze teimam em dizer que estão na quinze. Barbas por fazer não serão feitas agora. Ladrões, assassinos e psicopatas ingressam num hiato que deve perdurar uma faixa de noventa minutos e concordam em prorroga-lo se porventura –e incompetência dos centroavantes- tenha que se decidir a partida nos pênaltis. Din Din! Cardiologistas, especialmente nos hospitais privados, fazem previsões otimistas porque hoje duas ou três salas de emergência não serão suficientes para suportar a demanda. Aliás, sístole e diástole, preparem-se! A razão não permite que sinapses sejam feitas quando o assunto é futebol! Salas repartidas em cada repartição, funcionário público também tem time de coração. O suicida vai esperar, ele já chegou ao topo, um dos capitães com a taça em suas mãos ainda não. Tomara que seja o nosso... ou a revoga do kamikaze terá sido em vão. Prostitutas degustam melindrosamente o sabor da fama... Ô juiz filho da puta! Alguns ultra fanáticos dotados de uma demência desvairada e insana prometem assistir ao jogo num laboratório de fotografia. O espaço deve estar a caráter. Deus meu!... Talvez nem mesmo estas imponentes estruturas de aço suportarão tanta euforia e balbúrdia nesse Maracanã. Impeachment? O único impedimento que interessa agora será o que for marcado a favor de nós. Políticos disparam afoitos da lavanderia, deixaram sua fortuna por lá. O corretor esquece a vírgula e o vigia que dormia no ponto se apressa em ligar a sua Mini Tv Portatil. O cego liga o rádio, o surdo ativa closed caption. O monge desperta da meditação, o virtuoso reza e o ateu também. O paciente acorda do coma e o cadeirante a sete quarteirões do bar vem vindo eminente com a cadeira de rodas nas costas.

...E tudo isso meu amigo porque é jogo do Flamengo!

Todos a postos! No sofá, na mesa de bar. Do alto do edifício mais alto, do melhor e mais caro ao mais popular setor do estádio. Gaivotas flutuam acuadas. Nuvens desalinhadamente arranjadas de um anilado céu sem graça tiveram de dar as boas vindas ao voo rompante do urubu minaz e implacável rumo ao mais indômito anfiteatro do futebol brasileiro. Do lateral esquerdo para o direito, a bola é lançada com excelência. Ah, e por sinal, pra isso acontecer o jogo teve que começar. É dado o pontapé inicial!!! Antídoto contra a retranca: toque de bola intenso. Hoje até zagueiro vai dar uma de garçom. A bola passa de pé em pé, o saco de pipoca de mão em mão. O que resta das mãos se já foram evisceradas unhas e cotículas? O nosso camisa dez está recuperado da lesão, não erra um passe! Expectadores não sentem mais os sintomas da ressaca, o jogo já começa a se mostrar pegado! Marcação intensa! Opa! Isso foi uma caneta? Sim, e do nosso craque que deixou o volante arquirrival só na saudade... Arquibancadas, bares, áreas de lazer, salas de estar, guaritas, a dimensão espaço-tempo, todos superlotados. Jogo truncado! O torcedor xinga, dá palpites, acha que é o técnico enquanto o técnico já não sabe mais quem ele é. Debruçado está janela o cardíaco após decidir que não vai mais assistir o jogo. Falta grave! Nosso gênio é quem vai bater. A partida é transmitida em todos os cantos do planeta! Escorre um rio amazonas de suor da testa de algum torcedor aflito lá no polo sul. Pelo amor de Deus! E por falar nele, se for realmente brasileiro, é o apreciador mais privilegiado. O batedor se prepara para a cobrança, é garboso e faz pose... As vozes entoam em uníssono “tu és time de tradição, raça amor e paixão”. Tudo que se caracterize externo ou tudo que seja todo o resto se apequena de maneira fraternal perante aquela cena. Pés inteligentes vestidos de chuteira encontram a menina dos olhos de uma nação revestida de couro. As leis da física são rubro-negras. Movimento curvilíneo é aplicado com engenhosidade e destreza. O suicida desiste da queda enquanto sístole, diástole e a torcida adversária caem em desespero...

...E tudo isso meu velho porque é GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOLLLLL!