Perfilado
o pelotão do exercito se desperfila num frenesi estrépito. As senhorinhas da
rua doze teimam em dizer que estão na quinze. Barbas por fazer não serão feitas
agora. Ladrões, assassinos e psicopatas ingressam num hiato que deve perdurar uma
faixa de noventa minutos e concordam em prorroga-lo se porventura –e
incompetência dos centroavantes- tenha que se decidir a partida nos pênaltis.
Din Din! Cardiologistas, especialmente nos hospitais privados, fazem previsões
otimistas porque hoje duas ou três salas de emergência não serão suficientes
para suportar a demanda. Aliás, sístole e diástole, preparem-se! A razão não
permite que sinapses sejam feitas quando o assunto é futebol! Salas repartidas
em cada repartição, funcionário público também tem time de coração. O suicida
vai esperar, ele já chegou ao topo, um dos capitães com a taça em suas mãos
ainda não. Tomara que seja o nosso... ou a revoga do kamikaze terá sido em vão. Prostitutas degustam melindrosamente o sabor da fama... Ô juiz filho da puta!
Alguns ultra fanáticos dotados de uma demência desvairada e insana prometem
assistir ao jogo num laboratório de fotografia. O espaço deve estar a caráter. Deus
meu!... Talvez nem mesmo estas imponentes estruturas de aço suportarão tanta
euforia e balbúrdia nesse Maracanã. Impeachment? O único impedimento que interessa
agora será o que for marcado a favor de nós. Políticos disparam afoitos da
lavanderia, deixaram sua fortuna por lá. O corretor esquece a vírgula e o vigia
que dormia no ponto se apressa em ligar a sua Mini Tv Portatil. O cego liga o
rádio, o surdo ativa closed caption. O
monge desperta da meditação, o virtuoso reza e o ateu também. O paciente acorda
do coma e o cadeirante a sete quarteirões do bar vem vindo eminente com a
cadeira de rodas nas costas.
...E tudo isso
meu amigo porque é jogo do Flamengo!
Todos a postos!
No sofá, na mesa de bar. Do alto do edifício mais alto, do melhor e mais caro
ao mais popular setor do estádio. Gaivotas flutuam acuadas. Nuvens desalinhadamente
arranjadas de um anilado céu sem graça tiveram de dar as boas vindas ao voo
rompante do urubu minaz e implacável rumo ao mais indômito anfiteatro do
futebol brasileiro. Do lateral esquerdo para o direito, a bola é lançada com
excelência. Ah, e por sinal, pra isso acontecer o jogo teve que começar. É dado
o pontapé inicial!!! Antídoto contra a retranca: toque de bola intenso. Hoje
até zagueiro vai dar uma de garçom. A bola passa de pé em pé, o saco de pipoca
de mão em mão. O que resta das mãos se já foram evisceradas unhas e cotículas? O
nosso camisa dez está recuperado da lesão, não erra um passe! Expectadores não
sentem mais os sintomas da ressaca, o jogo já começa a se mostrar pegado!
Marcação intensa! Opa! Isso foi uma caneta? Sim, e do nosso craque que deixou o
volante arquirrival só na saudade... Arquibancadas, bares, áreas de lazer,
salas de estar, guaritas, a dimensão espaço-tempo, todos superlotados. Jogo
truncado! O torcedor xinga, dá palpites, acha que é o técnico enquanto o
técnico já não sabe mais quem ele é. Debruçado está janela o cardíaco após decidir que não vai mais assistir o jogo. Falta grave! Nosso gênio é quem vai
bater. A partida é transmitida em todos os cantos do planeta! Escorre
um rio amazonas de suor da testa de algum torcedor aflito lá no polo sul. Pelo
amor de Deus! E por falar nele, se for realmente brasileiro, é o apreciador
mais privilegiado. O batedor se prepara para a cobrança, é garboso e faz
pose... As vozes entoam em uníssono “tu és time de tradição, raça amor e
paixão”. Tudo que se caracterize externo ou tudo que seja todo o resto se
apequena de maneira fraternal perante aquela cena. Pés inteligentes vestidos de
chuteira encontram a menina dos olhos de uma nação revestida de couro. As leis
da física são rubro-negras. Movimento curvilíneo é aplicado com engenhosidade e
destreza. O suicida desiste da queda enquanto sístole, diástole e a torcida
adversária caem em desespero...
...E tudo isso meu velho porque
é GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOLLLLL!