Tudo pode acontecer
quando um funcionário público decide sair da rotina. E Raul saiu da sua quando pegou
emprestada uma peruca loira que a filha usava no teatro e foi com ela ao
trabalho. Os demais funcionários acharam aquilo hilário e levaram na esportiva,
portanto nada de questionamentos.
No dia seguinte, nada
de peruca, dessa vez pôs uma mascarilha colorida enfeitada com purpurina, um
paletó vermelho cobrindo uma camisa regata quadriculada. As pessoas começaram a
estranhar, perguntavam-se se não tinha Raul mulher e família, porque uma mulher
não gosta de se falada por desvairos de marido e um filho se envergonha se um
pai tenta ser mais fútil que ele.
E não parou por ai, o
pai de família achou uma calça jeans antiga que mofava no armário, fez rasgos
em várias partes dela. Com realce nas que cobriam as nádegas. Pegou uma chinela
e um tênis All-star e nos pés expôs uma irregularidade pra lá de excêntrica. Vestiu
um casaco de couro sem nada por baixo levando o fechecler somente até a metade.
Concluiu o look com um Ray-Ban cinza e um chapéu de palha. O escritório agora
não mais reagia com espanto, nem tampouco ria do colega vanguardista. Demonstravam
repulsa á quem um dia chegou a ser a personificação ligeiramente perfeita da
elegância. Euclides, o chefe, que mesmo conhecido por ter uma mentalidade pra lá de
liberal, não teve escolha e só restou chamar Raul pra uma conversa.
- Mas o que é isso
Raul?
- Isso o que? Oxe...
- Isso, você! Que
roupas são essas, que jeito de se comportar é esse? Isso é uma repartição
pública, você ficou louco?
- Você tem acompanhado
Milão, París ou São Paulo Fashion Week? Pois é, nada de novo, só a mesmice
desses estilistas metidos a besta! Euclides, meu lindo, se ninguém enlouquece a
moda não acontece!!!